Léo no final da variante Guerra e Paz IV - Serra do Lenheiro - MG.
Estava eu na minha congelante sala no navio DPI, faltando apenas
três dias para desembarcar, e uma dúvida na cabeça para onde ir este
desembarque e revirando o face book me peguei olhando uma foto de uma
escaladora em um teto alucinante que me chamou muito a atenção era realmente
linda a foto e quando olhei a legenda fiquei surpreso o pico era bem aqui no
Brasil, e mais perto do que eu imaginava.
Três Pontões de São João Del-Rei - MG.
A
foto foi tirada na Serra do Lenheiro em São João Del-Rei no estado de Minas Gerais,
também só podia ser mesmo neste estado que é sem sombra de dúvida o melhor estado
brasileiro para a pratica de escaladas esportivas que nos proporcionam belas
imagens como esta que me chamou muito a atenção, a via em que aquela escaladora
estava era a famosa e clássica Guerra e Paz VIIc nos Três Pontões que é uma formação rochosa alucinate em quartzito.
Placa na entrada do Camping na base dos Três Pontões.
Na mesma hora comecei a buscar informações sobre este pico
que eu já ouvira falar e muito sobre suas escaladas em moves e de alto nível técnico,
eu realmente queria conhecer a Serra do Lenheiro e conforme ia lendo artigos e
matérias sobre suas escaladas em especial nos Três Pontões a vontade de ir pra lá
só aumentava, achei um croqui com praticamente todas as vias do local em um
blog e pude ver que tinha muitas vias acessíveis e na sua maioria em móvel.
O que para uns é um
problema escalar neste estilo que exige uma boa apuração da técnica e confiança
nas proteções para mim era um paraíso, pois é o estilo de escalada que mais me satisfaz,
pois a cada repetição de uma via em móvel parece que estou conquistando a mesma
apesar de ela já ter sido repetida inúmeras vezes, a cada repetição as
proteções podem ser colocadas em pontos diferentes e com peças das mais diversas
o que torna uma escalada bem mais desafiadora do contrario de uma linha com
chapas onde as proteções serão sempre no mesmo lugar.
Fabíola Dellaretti finalizando o teto da Variante Guerra e Paz e armando a parada da Guerra e Paz VIIc.
Conforme ia lendo artigos sobre as escaladas nesta região
uma informação me chamou muito a atenção à área onde fica localizada a Serra do
Lenheiro é na verdade uma área militar onde o exército brasileiro pratica técnicas
de montanha e por isso é uma área restrita sendo necessária uma autorização
prévia para adentrar e praticar escalada, caminhadas e camping.
Fabíola Dellaretti e Jonatas Lima na Guerra e Paz VIIc e Alexandre Rodrigues na Dança Macabra VI.
Mas calma não é um bicho de sete cabeças para conseguir está
autorização basta apenas entrar no site da FEMEMG, http://www.fememg.org/
onde é possível baixar as duas autorizações necessárias para escalar e acampar
no CEMONTA como é conhecida a área de camping que fica aos pés dos Três Pontões
e quando chegar em S.J.D.R deve apresentar os papéis no batalhão que fica na
ladeira tenente villas boas SN˚para validae e pegar as chaves do estacionamento e dos banheiros do camping do CEMONTA.
Fabíola Dellaretti entrando no crux da Guerra e Paz.
A Primeira é uma ficha que deve ser preenchida
com os dados pessoais do guia responsável e seus participantes informando a
data desejada da visita e outra que é um termo de responsabilidade isentando o
exército de qualquer responsabilidade em casos de acidentes dentro desta área, após
preencher tudo deve-se escânear e enviar para o batalhão de São João Del-rei através
do email terceirasecao11bimth@gmail.com
com pelo menos uma semana de antecedência e aguardar uma resposta e mantenha
estas fichas sempre com você durante sua estadia no CEMONTA.
Fabíola e Jonatas no final da Guerra e Paz.
Outra dica
muito importante no site da FEMEMG tem um calendário com as datas em que o
exercito estará realizando treinamentos no CEMONTA nestas datas é proibida a entrada
de escaladores e o camping também fica fechado então confiram estas datas e se programem
com antecedência, apesar desta burocracia vale muito a pena conhecer este local.
Escaladores de Minas Lugoma e Chuck escalando a Clássica Variante da Guerra e Paz.
Após enviar a documentação ao Batalhão não demorou
dois dias e tive um retorno autorizando minha entrada no CEMONTA, e fiquei
muito feliz não só pela autorização, mas de ver que após o local ter sido
proibido para a prática de escalada há alguns anos atrás hoje o local conta com
uma gestão organizado para a pratica do esporte neste local o que deve servir
de exemplo para outras áreas de escalada no Brasil que estão passando pelo
mesmo problema.
Escalador no crux do teto chegando na parada dupla da Guerra e Paz.
Nos escaladores
queremos apenas praticar nosso esporte com segurança e liberdade sem incomodar
os proprietários, mas infelizmente uma memória acaba com esta liberdade indo
para a Serra do Lenheiro sem a autorização e não informando ao exército a sua
presensa no local onde guardas fazem rondas diárias solicitando a permissão
então escaladores vamos colaborar para não perdemos este pico incrível de
escalada.
Chuck no crux da Guerra e Paz VIIc.
Também foi fundamental o papel da federação mineira
de escalada para estes planos de manejos e organização da área de escalada dos Três Pontões darem
certos. Bom galera! sem mais blábláblá
vamos às escaladas que são muitas.
Eu na base da via Ópera Selvagem V, minha primeira via no Lenheiro.
Já em terra e com tudo no esquema fui novamente
para a BR-040 sentido BH, com minha menina e parceira de viagens Cacau, saímos de
Friburgo no final da tarde de frí até São João Del-rei da uns 336 km 4 ou 5
horas de viagem, mas após 15 dias embarcado não estava nem ai se ia demorar ou não
só pensava naquele teto alucinante da Guerra e Paz.
Chegamos em
S.J.D.R às 09h40min e decidimos que iríamos nos instalar em uma pousada ao invés
de ficar no camping pois não conhecíamos o caminho para o CEMONTA e não sabia
como seria a estrutura no local e nem se tinha outros escaladores e para não correr
o risco de ficarmos sozinhos em um lugar que não sabíamos como era a segurança
achei melhor assim. Demos uma volta pela cidade que me pareceu bem maneira e
fomos dormi, pois não via a hora de conhecer as fendas de quartzito do Lenheiro.
Léo no início da Ópera Selvagem e o escalador de Petrópolis Anderson Oliveira na P-1 em móvel.
Acordei bem cedo
tomei um café bem Mineirinho e parti em direção ao CEMONTA, para chegar lá segui
as dicas que o exército nos deu para seguirmos a AV. General Osório no bairro
de Tejuco até o fim e depois pegar a estrada Alcides Aquiles dos Santos e
seguir pela estrada de chão até o CEMONTA, foi bem tranquilo achar o lugar,
pois é bem fácil andar em S.J.D.R.
Léo na sequencia do crux da Ópera Selvagem V.
Da estrada já dava para ver que existia muito
mais coisas para fazer alem dos Três Pontões antes do CEMONTA tem umas paredes bem
interessantes e muitos boulders, mas quando cheguei no camping fiquei impressionado
com o visual era realmente lindo as fendas deste conjunto de montanhas e logo
identifiquei o teto da Guerra e Paz no pontão da esquerda.
Parte mais empé da via Ópera Selvagem.
Para minha surpresa tinha umas duas barracas no
camping e logo fui chegando e me apresentando, pois tinha que fechar uma
cordada e a melhor coisa era fazer umas amizades. Tinha uma mesa no camping
onde estava sentada uma menina magrinha de cabelos pretos e fui me apresentar a
ela que falou olá! Prazer Fabíola, e eu completei Fabíola Dellaretti e ela
surpresa falou é? Eu disse que havia acabado de adicionar ela no Face Book e
acabamos dando umas risadas e conversa vai conversa vem ela falou que também já
tinha entrado no meu blog e o resultado não podia ser outro ficamos amigos logo
de cara, mas desta vez pessoalmente.
Léo finalizando o crux da Ópera Selvagem.
Também estavam com ela os escaladores Alexandre
Rodrigues e Julio César Cardoso todos de BH, eles me falarem que estavam
esperando uma galera de S.J.D.R, para mostrar as vias e escalarmos juntos. Bom,
como tava sem parceiro esperei, esperei e esperei até que em fim eles chegaram
eu já estava tenso e não via a hora de escalar.
Léonardo Amorim e Anderson de Oliveira no cume do Pontão do meio.
Acabei conhecendo o Jonatas Lima um escalador
local muito forte e que já tinha aberto algumas das vias dos Três Pontões e o
cara realmente conhecia tudo ali, também estava com ele à escaladora local Natália
Campos e o escalador de Petrópolis, Anderson Oliveira eu como Friburguense acabei
fechando uma cordada com meu conterrâneo de serra Anderson Oliveira, e depois
de tanta espera começamos a subir a trilha em direção à base da via Ópera
Selvagem 5 grau eu queria fazer esta via não só pelo grau tranquilo, mas que me
pareceu ser uma das mais longas dos Três Pontões e lá fomos nós.
Léo na sequencia da guiada da via Alta Tenção VI / E3.
Trocando uma ideia com o Anderson logo vi que ele
era um cara experiente e viajado o que me deixou mais tranquilo sem contar que
o cara era realmente sangue bom. Como ele já tinha feito esta via pedi para
guiar ela toda e após me armar de friends, nuts, exentrics e mosquetões fui
subindo por uma pequena chaminé e armei uma parada móvel para recolher ele.
Via alucinante.
Pois havia perdido o contato visual e como queria
registrar as escaladas optei pela parada e assim que nos ajeitamos dei
continuidade à escalada agora na sua parte mais vertical onde tem um crux que
passar por um bico em negativo e logo na frente à escalada ficava mais
tranquila, até que cheguei no cume do pontão do meio e antes de recolher o
Anderson pedi para ele tirar umas fotos da Fabíola e do Jonatas que estavam na
via Guerra e Paz e estávamos com uma vista privilegiada deles, as fotos falam
por si.
Alexandre Rodrigues guiando a via Dança Macabra VI.
Do cume também dava para ver o Alexandre Rodrigues
guiando a via Dança Macabra 6 grau, realmente escalar no lenheiro é um visual atrás
do outro, descemos do cume por trás porque nem todas as vias estão equipadas
para rapelar com uma única corda sendo melhor descer pela trilha até o setor da
Esquina da Alegria onde tem muitas vias esportivas em móvel e é claro a Guerra
e Paz.
Natália Campos na Sublime Inconsequência (VIIc / A-1+)
Fonte: Jonatas Lima.
Assim que cheguei foi a maior vaib tinha uma
galera maneira ali escalando varias linhas e como meu tempo era curto falei com
o Anderson para entrarmos em uma outra via que tinha visto numa fenda bem
vertical e ele me falou que era a Alta Tensão 6 grau E3 e lá fomos nos.
Jonatas Lima guiando a Lúcifer VI sup.
Esta via é considerada E3 devido a sua saída no
início que é um pouco exposta e difícil de proteger, mas consegui colocar um
nut e um friend no mesmo buraco e tentei o crux tomei umas duas vacas as peças não
cuspiram e fiquei, mas confiante e consegui mandar o crux. O restante da linha é
mais tranquila e as peças ficam mais bombas e consegui finalizar a Alta Tensão,
eu fiquei muito feliz, pois li vários relatos sobre esta via e realmente o nome
faz sentido.
Setor Esquina da Alegria.
Fonte: Julio César Cardoso.
Fiquei ali tirando umas fotos e vendo o Anderson e a
Fabíola repetindo a via de top e fui ver os escaladores Lugoma e Chuck fazendo
a Guerra e Paz, pela variante do teto, o visual era realmente alucinante e não
pensava em outra coisa a não ser voltar amanhã para tentar a Guerra e Paz. Como
Cacau estava no carro fritando e provavelmente já de saco cheio achei melhor
descer para descansar e conhecer a cidade de Tiradentes mais tarde, pois
estava rolando um festival de vinho e jazz e foi o que eu fiz.
Alexandre Rodrigues e Julio César na Esquina da Alegria IV.
Tiradentes é realmente uma cidade turística e
histórica no mesmo estilo de Ouro Preto e Paraty com seus casebres antigos e
ruas de pedras feitas pelos escravos sem falar nas igrejas barrocas. Bom depois
de umas garrafas de vinhos e alguns caldos voltamos para a pousada para
descansar e acordar bem cedo para tentar a Guerra e Paz e voltar de dia para
explorar a cidade de Tiradentes melhor.
Fabíola Dellaretti no final da Dança Macabra VI.
Fonte: Julio César Cardoso.
Novamente tomei aquele cafezinho mineiro e parti
para os três Pontões e quando cheguei à galera do camping já estava acabando de
tomar o café e logo em seguida o Jonatas chegou com outro parceiro o Marcio Douglas,
que também era de S.J.D.R, e fechamos uma cordada para tentar a Guerra e Paz.
Léo Amorim no crux da Guerra e Paz VIIc.
Pedi ao Marcio para guiar a primeira parte da via
pela Variante do Teto da Guerra e Paz e ele aceitou me equipei rapidamente e comecei
a entrar no lance que é bem tranquilo um 4 grau pedi para ele tirar muitas
fotos e realmente elas ficaram show. Recolhi o Marcio para a P-1 da Guerra e Paz
e ele assumiu a guiada da segunda parte que é o crux da via o Marcio tentou o
lance algumas vezes mais acabou desistindo e antes de descermos pedi para
tentar, pois queria pelo menos ver como era o lance pra cima.
Jonatas e Fabíola na Rosa de Hiroshima V.
Fonte: Julio César Cardoso.
Coloquei
mais uns friends acima do primeiro nut que estava fazendo a proteção e o lance
ficou mais protegido e acabei conseguindo mandar ele isoladamente, pois a
cadena era muito forte para mim, mas consegui ir até o final do pontão
esquerdo, e armei um rapel para limpar a via e quando cheguei no Marcio, a
corda simplesmente agarrou e não soltou por nada.
Léo e Marcio Douglas na P-1 da Guerra e Paz.
Fonte: Julio César Cardoso.
Ficamos com
cara de bunda sem saber o que fazer até que sai emendando umas fitas,
deysichens, costuras e rapelei até o grampo da via Sublime Inconsequência e dei
um jeito de descer pela minha gambiarra e dei a volta pela trilha ate encontrar
uma sequencia de chapeletas velhas numa linha tranquila e subi em solo por ali
mesmo até o grampo e soltei a cora para o Marcio descer.
Um dos grampos com cabo de aço usados pelo exército para fazer rapel.
Fonte: Julio César Cardoso.
Como tinha que retornar ao Rio neste dia e queria
passar novamente em Tiradentes, e como levamos muito tempo na Guerra e Paz me despedi
dos meus novos amigos com uma sensação de felicidade imensa e com certeza vou
voltar e muitas vezes a este paraíso para escalada em móvel.
Léo no início da Variante da Guerra e Paz.
Na descida ainda
esbarrei com a Fabíola e o Jonatas que tinham acabado de fazer a via Lúcifer 6
sup e agradeci pela vaib e pela recepção e convidei eles para conhecer o parque
de Furnas em Friburgo para escalarmos algumas das fendas mais bonitas do Estado
do Rio.
Eu e Claudinha em Tiradentes - MG.
Cara, que lugar irado!
ResponderExcluirA aparência da rocha me lembra um pouco o Cipó!
Merece uma visita em breve!
Abraço
Careli
Cara o lugar é alucinante mesmo mas não é caucario nào é quartizito. eu ja coloquei o texto da uma olhada tem muitas dicas abç.
ExcluirLéo.
Salve Léo. Excelente matéria sobre o Lenheiro. Parabéns !
ResponderExcluirEstou indo com um grupo de Escaladores pra lá no feriado de 20 de novembro . Por acaso vc tem o contato dos Escaladores locais ?
Abraço e boas escaladas.
A propósito, me chamo Ricardo Garrido e sou o Rio. E mail rgclimbing@gmail.com
ResponderExcluir