Galera demorou, mas saiu à primeira conexão Teré x Frí de 2013,
novamente com meu amigo de Teresópolis, Marcelo Vieira e meu mais novo parceiro
de roubadas Nayguel. Depois de alguns telefonemas decidimos fazer esta conexão
desta vez em Friburgo e a montanha escolhida não podia ser outra o Pico Maior
de Salinas e a via é claro uma clássica a Face Leste.
Acampamento em Três Picos com Nayguel, Marcelo e Leonardo.
Esta escalada não foi escolhida por acaso, pois os meus dois
parceiros de cordadas nunca haviam escalado o Pico Maior e é sempre um prazer
levar alguém pela primeira vez naquele cume e ver a emoção das pessoas pela
superação de vencer os 730 metros de granito de uma via que tem de tudo e com
uma vista alucinante das montanhas de Nova Friburgo e de Teresópolis.
Amanhecer na base da via Face Leste no Pico Maior.
Outro
motivo muito especial para mim é que este ano eu estava completando 20 anos que
subi o pico maior pela primeira vez, na época eu tinha apenas 14 anos e ficou marcado
pelo resto da minha via esta escalado que tive o prazer de fazer com um amigo
das antigas o Charles Moura o qual eu sou agradecido pelo resto da minha vida.
Marcelo, Nayguel e Eu na base da via Leste.
Após
eu desembarcar eu não pensava em outra coisa a não ser escalar uma montanha e é
claro ver minha esposa, mas estes detalhes eu não vou entrar, pois da para
imaginar o que é para um escalador ficar 15 dias no meio do oceano só vendo água
e a galera bombando o fece book de aventuras?
Da uma fissura maluca kkkk
Traçado da via Face Leste no Pico Maior de Salinas.
Mas em fim o dia 15 de maio tinha chegado e como já havia
combinado com meus parceiros coloquei toda minha parafernália de escalada e
camping no hall bag fechei a mala do carro e coloquei o pé na estrada rumo à
cidade de Nova Friburgo não via a hora de sentir o cheiro de mato e o vento
frio das montanhas da minha cidade natal.
Léo no primeiro grampo da via Leste.
Dei uma ligada para os caras avisando que eu já estava a
caminho e que só ia matar umas pendências que eu tinha em Frí e depois ia partir pra Salinas,
para encontra com o Marcelo, às 6 horas na entrada do parque, mas as coisas não
saíram como planejado e eu e Nayguel só chegamos no parque às 8 horas e assim que
estava entrando na estrada de chão que sobe para os Três Picos, demos de cara
com Marcelo metendo o pé para Teré, já achando que eu havia desistido a
escalada.
Léo e Marcelo na P-2 da Leste.
Falei com Marcelo, para dar meia volta e subimos de carro
até o pé do pasto onde deixamos os carros e colocamos o pé na estrada, ou
melhor, começamos a subida pasto acima até o camping do meu amigo Mascarin, e
depois de caminharmos uns 30 minutos chegamos na casa do Mascarin, só que
para nossa surpresa não tinha ninguém na casa e no camping.
Léo na terceira enfiada da via Leste.
Ficamos meios bolados de acampar ali e largar nossos
pertences sem nenhuma segurança é resolvemos fazer um acampamento avançado
mais perto da base do pico maior mesmo sabendo que teríamos que subir metade da
trilha da leste para recuperar o hall bag depois da escalada, mas como estávamos
empolgados de estar ali nem ligamos para este pequeno e árduo detalhe.
escaladores seperdem neste ponto da via.
Enchemos nossos cantis com aquela água maravilhosa de
Salinas, e tocamos para cima até a bifurcação que vai para os Picos Menor e
Médio, onde armamos o nosso acampamento, a noite estava alucinante toda
estrelada não tinha lua e a silueta das montanhas parecia uma pintura eu nunca
havia acampado ali e fiquei impressionado com avista.
Léo na sétima enfiada da via Leste antes da moita da primeira chaminé.
Como iríamos levantar as 4h30min da matina para começar a
maninharmos para a base do Maior, comemos uns miojos, seguido de um chocolate
quente e nos deitamos os três apertados na minha barraca para esticarmos as
costas e descansar as pernas porque nossas mentes estavam a todo vapor. Eu não sei
quanto aos meus parceiros, mas eu nunca consigo dormi antes de uma escalada de
alto nível e aquela noite não foi diferente e assim que o despertador tocou
sacudi a galera para agitarmos um café.
Léo guiando a primeira chaminé da Leste.
A madrugada estava bem agradável não estava frio e nem
ventando como é de praste nesta parte da montanha, as mochilas já estavam arrumadas
e antes do sol nascer estávamos caminhando em direção à base da face Leste do
Pico Maior. Chegamos na base com menos de 30 minutos de caminhada e enquanto
nos equipávamos para começar a escalada fomos saudados pelos primeiros raios de
sol aquecendo a alma e nos presenteando com uma vista alucinante de um Pico
Maior que de cinza ficou com uma mistura de rosa e roxo.
Marcelo fazendo a primeira chaminé e Nayguel no platô da chaminé.
Tudo
listo tiramos aquela foto tradicional da base e sem perder mais tempo fui
tocando pra cima a primeira enfiada eu não olhei às horas, mas acredito que
erma umas 6h00min horas da manhã, estávamos começando a escalada em um ótimo horário,
pois normalmente a Leste é feita em quatro ou cinco horas, mas como estávamos em
três certamente levaríamos mais tempo. Primeira parada armada recolhi Marcelo,
e falei para ele recolher Nayguel, no grigri e ir liberando minha cora no atc
ao mesmo tempo para adiantar a escalada uma vez que as seis primeiras enfiadas
da via eram mais tranquilas.
Léo Amorim na saída da Primeira chaminé da Leste considerado por muitos como o primeiro crux da via.
A escalada foi fluindo tranquila todos estávamos em um bom ritmo,
e quando dei por conta já estávamos fazendo a travessia para a direita chegando
na P-4, onde recolhi Marcelo, novamente e dali só paramos os três na primeira chaminé
onde tem um enorme platô que é uma parada estratégica para nos hidratarmos, comermos
alguma coisa e de estomago cheio e cabeça feita continuei subindo pela enorme
chaminé.
Marcelo e Nayguel na saída da chaminé da Leste.
Deste ponto da escalada para cima a via muda totalmente de
figura já começando pelo primeiro crux da saída da chaminé que para muitos é a
parte mais difícil da via, particularmente eu não acho que esta parte é a mais difícil,
mas sim a enfiada seguinte onde tem que subir reto e depois fazer uma travessia
para a esquerda neste ponto tem que tomar muito cuidado, pois para mim é a
parte mais exposta da via.
Marcelo mandando a saída da chaminé da Leste.
Armada a segue na P-10 após a saída da chaminé recolhi Marcelo,
que passou meio que adrenado no lance, mas não caiu. Em seguida Nayguel, se juntou
a gente e parti para a tal travessia exposta e logo estava guiando o totem da
Leste onde eu considero a parte mais bonita da via, uma parede bem vertical
rosada com enormes veios de cristais gigantes esta parte não é muito difícil,
mas se o escalador cair ali às consequências podem ser desastrosas.
Marcelo na P-10 da via Leste.
Passada esta parte cheguei na P-12 antes da segunda chaminé
onde também tem um lance delicado que eu gosto de fazer saindo pela esquerda e
atravessando para a direita neste lance tem como proteger com um friend número
1 da BD, que fica perfeito. Mais encima eu vi uma chapeleta nova não sei se é
de uma via que cruza a Leste ou se colocaram ali para fazer a entrada da
chaminé por cima, mas eu segui pela linha original, mas abaixo em diagonal para
a direita pegando o diedro no pé da chaminé e parando na base dela.
Vista da Pedra da Mariana a direita e do Pico do Caledônia ao fundo.
Neste ponto da escalada o cansaço dos meus parceiros era visível
e o tempo começava a fechar rapidamente o tempo é meio louco mesmo em Salinas
começamos a escalada sem nenhuma nuvem e um sol de rachar e agora o tempo
estava patagônico. Sem perder tempo fui guiando a segunda chaminé enquanto
Marcelo recolhia Nayguel para ganharmos tempo e não correr o risco de pegarmos
uma chuva no final da via nos forçando a rapelar pela Leste.
Marcelo e Nayguel reunidos na P-10 após a saida da primeira chaminé, neste ponto onde estava dava para ver o início da via Leste a direita e todo o percurso que fizemos até ali.
Chaminé encadenada recolhi Marcelo, e sai para fazer o
segundo crux da via que é a saída da segunda chaminé seguida de um lance meio que de
tesoura, e dei sequencia guiando o primeiro artificial A-0/VI+ da via que está
uma vergonha ainda não consigo acreditar que a galera que mora nos Três Picos
não substituiu os parafusos de ¼ enferrujados e alguns já com sinais gravíssimos
de perda de espessura acho que só estão esperando alguém se acidentar para
trocar vou torcer para não ser eu o premiado, mas vamos tocando a via assim
mesmo.
Croqui da via Face Leste do Pico Maior de Salinas feito por Leonardo Amorim.
Em fim chegamos na P-14 neste ponto eu sempre fico tranquilo
porque dali pode chover até canivete que eu tenho como chegar no cume, pois
dali pra frente é só mais um lance meio rampado e o segundo artificial A-0/V
uma travessia e em fim jogar pro cume seguindo um veio de cristal e o costão final.
Fui guiando até a P-15 onde falei para Marcelo, recolher Nayguel que eu ia
subindo e quando a corda estica-se era para ele subir e para Nayguel fazer a
mesma coisa, pois dali eu só ia para no cume e foi o que fizemos.
Marcelo chegando na P-12 antes da segunda chaminé da Leste.
Chegamos no cume às 15h43min com um tempo meio doido hora
limpo hora nublado, mas o melhor foi ver a emoção dos meus parceiros e a
sensação de missão cumprida deles estarem tocado o cume daquela montanha super
especial e sem igual no planeta.
Marcelo na base da segunda chaminé e Nayguel no diedro antes da chaminé.
Realmente é emocionante a primeira vez que se
escala a Leste eu olhava para eles e só me lembrava da minha primeira vez há 20
anos em 1993 quando cheguei exausto e super feliz de ter sido um dos escaladores
mais jovem a tocar aquele cume com apenas 14 anos não sei se já houve uma ascensão
mais jovem até hoje, mas isto não imposta o que importa mesmo é a emoção de
estar ali.
Léo já na parada após mandar a segunda chaminé apontando para Marcelo e Nayguel no início da chaminé.
Nos reunimos perto do livro de cume, mas quando abri a urna
uma surpresa não tinha livro nenhum eles ficaram um pouco decepcionados por não colocarem
os nomes no cume do Pico Maior e então começamos a tirar varias fotos e como o
tempo estava virando rapidamente e o tempo estava se esvaindo e a noite na
montanha era iminente enrolei as cordas e começamos a procurar a via de rapel.
Marcelo na saida da segunda chaminé da Leste considerado o segundo crux da via.
Optei em rapelar pela via de rapel reto que passa ao lado
direito da via Cidade dos Ventos esta via é a saída mais rápida da montanha com
apenas sete rapeis, com duas cordas de 60 metros, todas as paradas são duplas e
não há muitas lacas traiçoeiras para agarra as cordas mais isto é relativo.
Léo mandando o segundo artificial A-0 da Leste.
A cada rapel a noite ia se aproximando e com as últimas energias e raios de sol íamos puxando as cordas e armando os rapeis o mais rápido que conseguíamos e todo este esforço foi crucial fizemos o penúltimo rapel da via já na penumbra quando tocamos a base da Cidade dos Ventos e ainda deu para descer a trilha até o rapel da árvore e quando tocamos a base da montanha já estava tudo escuro e para nossa sorte ou não começou a chover de leve acho que foi só para lavar a alma mesmo.
Marcelo e Nayguel reunidos na moita da P-14 da Leste.
Estávamos exaustos, mas felizes por mais esta benção que foi esta escalada agora era guardar os equipos e sem dar mole descer pela trilha do Capacete, o que foi tranquilo de achar, mas realmente estávamos bem cansados para nossa sorte quando começamos a descer à trilha a chuva parou e fomos tocando para baixo, mas devagar com muito cuidado para não torcer o pé ou nos machucarmos no final da trip.
Marcelo na saida do segundo artificial da Leste chegando na P-15.
Quando chegamos na fazenda já morgados tive uma péssima lembrança o hall bag!!! Falei com os caras que tinha que resgatar o hall bag no meio da trilha para a base da Leste e lá fomos eu e Marcelo Nayguel estava exausto e ficou na fazenda tomando conta das mochilas malandramente.
Vista do cume do Pico Maior que fica voltada para a cidade de Nova Friburgo com o Pico do Caledônia ao fundo.
Para piorar ainda, mas a situação havia baixado uma cerração daquelas de Três Picos que não se enxerga nada e passei um veneno para achar a entrada da trilha para a Leste. Sobe, desce até que em fim encontrei fui subindo a trilha e pensando de onde eu tinha tirado esta ideia genial de açamar lá em cima, mas como dizem "todo castigo para alpinista é pouco" e lá fomos-nos.
Toda a equipe reunida no cume do Pico Maior de Salinas 16/05/2013, às 15:43.
Já bolado com o tempo que agora voltava a chover achei o hall bag, coloquei nas costas e toquei para baixo novamente, foi um ótimo treinamento, mas acho que não vou repetir esta idiotice de novo não.
Vista do cume do Pico Maior que fica voltada para a cidade de Teresópolis, com os picos Médio e Menor a esquerda e o Morro dos Cabritos com outras montanhas a direita.
Depois de uma hora chegamos na fazendo e encontramos Nayguel já bolado no meio de um monte de vacas e bois brabos e antes que os bichos se revoltassem começamos nossa jornada pasto abaixo até os carros e já no limite chegamos na última porteira e pude ver o carro ufffffa! Separamos os equipos me despedi do Marcelo que ainda estava em êxtase com o seu enorme feito e pensei agora é só mais algumas horas de viagem até a cidade de Rio das Ostras e ai sim poderei descansar.
Marcelo e Nayguel felizes por estarem a primeira vez no cume do Pico Maior, uma experiência única na via de qualquer alpinista, que tenha este privilégio.
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